"São animais dóceis, acostumadas com colo",
defende criadora.
As três jiboias são da espécie Boa constrictor constrictor.
Desde criança a paixão de Maria Barcelos por serpentes salta
aos olhos. Hoje com 62 anos, a Maria dos Índios, como é conhecida por seu
trabalho pela causa indígena no município de Cacoal, RO, onde reside há 36
anos, cria suas três cobras jiboias em casa, como animais de estimação. Os
animais são da espécie Boa constrictor constrictor, conhecida como jiboia
amazônica, e não são peçonhentos.
Maria relembra que aos 13 anos, quando morava em Minas
Gerais, encontrou uma cobra jararaca e começou a criá-la, mas acabou soltando-
a na natureza por incentivo de seus pais. “Era uma espécie perigosa,
peçonhenta. Como não podia manuseá-la, então, após muita relutância, decidi libertá-la”,
relembra Maria.
“Eu sempre gostei e tive curiosidade. Esse mistério que
circunda as serpentes me atrai. É engraçado ver a quantidade de mitos que as
pessoas criam para se manterem afastadas desses animais maravilhosos”.
Há três anos, a ex-professora de geografia realizou seu
sonho e começou a criar três serpentes. Os animais são de um criadouro oficial,
legalizado, do Estado do Pará e possuem até nomes: Nhame-Nhame (macho), Gaia e
Atena (fêmeas). “Quando chegaram eram pequenas e leves, tinham o tamanho de
minhocas de pesca. As crianças brincavam com elas. Agora estão bem pesadas,
cada uma mede quase dois metros e por isso ficou difícil para manuseá-las”,
explica a criadora.
E foi por esse motivo que a alimentação das ‘pequenas’ teve
que ser readequada. “Elas comiam a cada 10 dias, mas estavam crescendo muito.
Então decidi alimentá-las a cada 15 dias. Não fará mal a elas, pois na natureza
a caça não é tão fácil assim”. O cardápio dos animais é diferenciado. Roedores,
codornas e pequenos frangos fazem parte do cardápio, todos vivos, de
preferência.
Maria cria ainda quatro cachorros e um hamster; estes as
serpentes não comem. Com suas constantes viagens pela causa indígena no
município, Maria conta com a ajuda de dois estudantes de ciências biológicas
nos cuidados com os animais. “Nós trocamos experiências e estamos sempre atrás
de detalhes sobre a vida desses animais maravilhosos”, revela Maria.
Miguel Barbosa e Pedro Henrique Dávila se encantam com a
possibilidade de poder manusear bichos que eles veem nas aulas somente em
livros. “Está sendo uma oportunidade para nós dois, ainda mais porque elas são
dóceis. Ela está fazendo pressão no meu pescoço, mas é só o modo como ela
rasteja, não está fazendo por mal”, ressalta Miguel com um dos bichos enrolado
em si mesmo.
Segundo Pedro, o que mais amedronta as pessoas é a imagem
que a sociedade faz destes bichos. “Essa ideia da maldade da serpente já vem da
antiguidade: da história do Adão e Eva, por exemplo. Mas são bichos como outro
qualquer”. E para quem tem o mesmo apreço da Maria por serpentes, os três
esclarecem que o melhor é procurar um criadouro especializado, pois ter um
animal silvestre em casa é crime.
Incidentes
Maria lembra rindo da
única vez em que sofreu um incidente com as serpentes. “Segurei a codorna para
a Atena dar o bote, e ela abocanhou a parte errada. Foi estranho, mas eu tinha
a curiosidade de saber como era ser picada. Não tenho mais”, brinca. A criadora
conta que a dor da picada é pouca por não ser uma cobra que não possui veneno.
“Ela não fez por mal. São mansas. Ela só errou na hora de dar o bote”, defende.
Planejamento
Com quatro anos as
serpentes já podem se reproduzir, e Maria planeja um futuro para Nhame-Nhame,
Gaia e Atena. “Pretendo construir um terrário maior para as três poderem viver
com mais conforto. No tamanho que estão, o lugar onde vivem já está pequeno,
elas precisam de espaço”, afirma Maria. Para ela Cacoal pode vir a ter um
criadouro de serpentes um dia. “Quando elas procriarem, se eu não tiver um
criadouro legalizado tenho que convocar os órgãos responsáveis para entregar os
filhotes a natureza”, lamenta Maria.
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